segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Fotografias

Fotografias
Cardosofilho
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Lendo o poeta Mario Quintana, deparei com a palavra álbum. Bastou para me acudir um fluxo de reminiscências. Lembrei-me dos álbuns de fotografias. Bons tempos em que faziam parte de nossos guardados importantes, encarregados de preservar momentos de nossas histórias familiares em imagens em branco e preto, depois, em cores, estas a partir da segunda metade do século XX. Mas beleza clássica e o glamour das antecessoras permaneceram.
Cheguei por aqui em maio de1945, dias depois do término, na Europa, da II Guerra Mundial (o encerramento definitivo aconteceu só em agosto do mesmo ano, com a rendição do Japão). Época em que poucas casas possuíam câmeras fotográficas, e as primeiras que conheci, amadoras, eram no formato de pequena caixa, na cor preta (seria afrocor?), chamadas por isso de “caixotes”, primitivas aos olhos de agora como os dinossauros.
Abro parêntese para lembrar os álbuns de poesias, em que as mocinhas permutavam sonetos românticos e mensagens de carinho. Também concediam a honra de escrever em seus álbuns a moços escolhidos por amizade ou interesse sentimental escondido no coração sonhador. Para onde foram esses álbuns? Só as mocinhas de ontem sabem. Assim eram aqueles dias.   
Mas as ciências trabalhavam febrilmente. Por volta da década 1990, as câmeras fotográficas convencionais rumaram para a galeria de antiguidades, empurradas pela facilidade e instantaneidade das câmeras digitais, e demoraria bem pouco para que estas fossem incorporadas aos telefones celulares. Resultado foi que as fotografias que necessitavam de rolo de filme e revelação praticamente desapareceram do mercado, e nem a gigante Kodak, marca emblemática na produção de filmes, processos de revelação e máquinas fotográficas populares, suportou a competição e acabou falindo. Hoje, a qualquer momento, em qualquer lugar, todos sacam de seus aparelhos celulares com câmeras e fotografam ou filmam tudo. Em festas, é um desassossego geral, tantos os pedidos para fotografar ou ser fotografado. E nem falemos das “selfies”, que se disseminaram como epidemia.
Em uma palavra – bem mais que uma –, as câmeras digitais banalizaram e depreciaram as fotografias. Fotografa-se, repito, tudo, e, nessa abundância de imagens, em grande parte irrelevantes, as fotos são esquecidas, para sempre, em arquivos digitais, ou, o mais comum, apagadas logo que cumprida a finalidade momentânea de ilustrar páginas do Facebook, WhatsApp ou de outras redes sociais. Pouquíssimas ganham a distinção de ilustrar um álbum.
Assim é. Os álbuns exilaram-se em gavetas, baús e sótãos (se ainda existem), em resistência heroica ao pó e desgaste do tempo e aos furtos familiares que os desfalcam e deixam, no lugar das fotografias subtraídas sorrateiramente, vestígios desoladores de cola ou as cantoneiras inúteis.
É, meus amigos, há inovações que não nos melhoram em nada.  

Fevereiro de 2017.

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