Ao Bom Velhinho
Cardosofilho
Estimado Papai Noel:
Chegou o momento de escrever-lhe a
cartinha anual, pois o Natal está bem próximo, e espero que esta o encontre com
saúde e bem-disposto. Teria muito a lhe contar, mas tentarei ser breve, pois
sei que seu tempo é apertado para ler as cartas que lhe chegam e providenciar
as encomendas. Além do mais, acredito que o Senhor sabe muito bem o que
acontece aqui embaixo. Nada fácil, Papai Noel, igual ao ano passado, talvez
pior, mas isso não é novidade, pois a Terra vive em confusão desde o começo.
Creio que levei em boa decência este
ano de 2016. Alguns, ou vários, pecados cometi, como é próprio da gente, mas,
que me lembre, nenhum grave a ponto de fazer jus a algum castigo de sua parte,
tipo desmerecer qualquer presente, mesmo que simples, barato, um livro, por
exemplo, que já ficarei contente. Quer dizer, mais ou menos. Acontece, Papai
Noel, que, apesar da idade, ando com uma ideia que não sei se é boa. É o seguinte:
tenho pensado em ter um scooter, e se o Senhor não sabe do que se trata,
explico logo: é uma motocicleta pequena, igual à Vespa ou à antiga Lambretta,
das quais acho que o Senhor se lembra. Pois é. O scooter é automático, ou seja,
não requer troca de marchas, bem facinho de dirigir, parece até brinquedo, roda
bastante com um litro de gasolina e não é tão caro como motocicletas maiores. Não
sei o que o Senhor acha da ideia, visto que minha idade tem avançado uma
barbaridade nos últimos anos que nem acredito direito. Será verdade que o tempo
está se acelerando, Papai Noel?
Sei, porém, que o desejo acima
descrito não cabe num pedido ao Papai Noel, ainda que se trate também de um
brinquedo, só que de adulto, de modo que fica aqui apenas como registro. De
verdade, digo de novo, me contentaria com bem menos, e, este ano, vou deixar
por sua conta a escolha do meu presente. Para reforçar as informações sobre
minha conduta em 2016, que termina daqui a pouco, repito que me esforcei para
ser melhor ou, pelo menos, não piorar. Luta dura, Papai Noel, porque os
desafios continuam enormes e confesso que tenho perdido a paciência com facilidade.
Começa com o meu time de futebol, o Coritiba, que, entra ano e sai ano, dá
desgosto e um suplício só. Sofrimento que parece não ter fim, e o Senhor sabe,
suponho, que esse cai-não cai para a segunda divisão, repetido a cada ano,
esgota o torcedor e aí ele xinga, porque sem xingar a raiva não sai da gente, e
esse defeito em torcedor de futebol, ou outro esporte, acho que não tem cura.
Faz parte dos nervos, entende, Papai Noel?
Outra coisa que mexeu muito com minha
paciência foi a política brasileira, e penso que o Céu precisa ajudar de uma
vez para a gente sair do buraco. O Brasil, Papai Noel, como o Senhor está
cansado de ver aí de cima, está na... na... e quase me escapa um palavrão, mas
o Brasil está mesmo no palavrão que eu pensei e não disse, pelo enorme respeito
que tenho pelo Senhor. Culpa sabe de quem, Papai Noel? Sabe, né? Pois é, além
desses culpados, a maioria dos nossos deputados e senadores daria para pôr num
saco amarrado e jogar no rio, que nem na maldade que faziam e ainda devem fazer
com filhotinhos recém-nascidos de gatos. Alguns políticos são tão antigos na
malandragem que já passaram do ponto de serem enviados para o buraco dos
infernos, demora que, convenhamos, Papai Noel, é incompreensível. Será que a
pintura dos cabelos e cirurgias plásticas dos pilantras estão enganando os
responsáveis pelo serviço de coleta?
Desculpe se escrevi demais, estimado
Papai Noel. Vou encerrar já, pedindo-lhe que entregue a quem de direito nosso
pedido de socorro, pois, do jeito que as coisas caminham por aqui, vamos acabar
em grosseria feia, tipo pancadaria, coisa que, certamente, desagradaria a Nosso
Senhor.
Grande abraço, Papai Noel, deste guri
antigo.
Dezembro de 2016.
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